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Homesteaders Brasil #3 | A Fusão de Arte e Liberdade: Hundertwasser e Rothbard
Explorando as Interconexões entre Arquitetura Orgânica, Bioconstrução e Anarcocapitalismo.

Nas edições anteriores
#2 | Do individual ao coletivo, realizar-se em não se ajustar
#1 | Permacultura & Bitcoin
Para começo de conversa 🌱
A vida off-grid, caracterizada pela autossuficiência e independência de redes urbanas convencionais, apresenta desafios únicos que exigem uma combinação de criatividade, inovação e adaptabilidade. Cada dia neste estilo de vida é um convite para resolver problemas complexos, desde desenvolver sistemas eficientes de energia renovável até criar métodos sustentáveis de gestão de resíduos e água. A criatividade aqui não é uma opção, mas uma necessidade. Ela se manifesta na capacidade de ver além das soluções convencionais, adaptando-se às limitações dos recursos e às particularidades do ambiente natural. Por exemplo, a criação de um jardim permacultural não é apenas um ato de plantio, mas um design cuidadoso que imita ecossistemas naturais, exigindo uma compreensão profunda e criativa da interação entre plantas, solo, água e fauna local.

Hundertwasser pintando.
Além dos aspectos técnicos, a vida off-grid também demanda uma abordagem criativa para o bem-estar pessoal e comunitário. Aqui, a prática de atividades artísticas desempenha um papel fundamental. Atividades como pintura, escultura, música ou escrita não são apenas formas de expressão pessoal ou lazer, mas ferramentas essenciais para manter uma mente equilibrada e inspirada. Estas práticas artísticas ajudam a cultivar um estado mental aberto e flexível, crucial para a resolução criativa de problemas. Elas também proporcionam um contraponto necessário aos desafios físicos e mentais da vida off-grid, oferecendo um espaço para reflexão, relaxamento e rejuvenescimento. Essa integração entre criatividade artística e as demandas práticas da vida autossuficiente enriquece a experiência do homesteader, tornando-a mais sustentável e gratificante, tanto no aspecto físico quanto no emocional e espiritual.
Incorpore ao menos 1 atividade artística/criativa em sua rotina semanal. Te fará bem, fará bem aos seus projetos.
Tá, mas e o Bitcoin? 🗣️₿⚡🍻
Plebe, inauguramos nessa edição a coluna nova: “Tá, mas e o Bitcoin?“. Sim! Nossa eterna conversa de bar terá a partir da edição #3, uma versão escrita. 👍🏻Acompanharemos nesta coluna a variação do BTC do fechamento da edição anterior para esta, além de outras informações pertinentes sobre o mundo da pílula laranja quando fizer sentido. 😉
Vamos considerar o fechamento de sexta à sexta, dessa vez então de 22/12/2023 à 29/12/2023.
Na #2 edição, comentamos a matéria da The Economist, vale ressaltar que no dia 20 (data da divulgação do artigo inglês) houve uma variação positiva do BTC mas que não se refletiu no restante da semana, que teve oscilação levemente negativa.
Já fiz a burrada de ir às compras em Janeiro e Fevereiro, mas tradicionalmente são meses ruins para os Satoshinhos, você concorda? Ou acha que é um bom momento para comprar por termos um Halving à vista? 👀 -Pode responder o e-mail que chega pra mim sua resposta.
Sinergia Criativa: As Cinco Peles de Hundertwasser e a Liberdade de Rothbard

Friedensreich Hundertwasser na Nova Zelândia em 1998.
Friedensreich Hundertwasser foi uma figura multifacetada no mundo da arte e da arquitetura, conhecido por suas visões revolucionárias e seu compromisso com a harmonia entre a humanidade e a natureza. Nascido Friedrich Stowasser em Viena, Áustria, em 1928, ele adotou o nome Hundertwasser - um jogo de palavras com "hundert" (cem em alemão) e seu sobrenome original - simbolizando a multiplicidade e a riqueza de suas ideias. Hundertwasser foi um pioneiro na rejeição das linhas retas e uniformes da arquitetura moderna, proclamando que "a linha reta leva à morte do homem", uma crítica direta à monotonia e à alienação causadas pela arquitetura convencional.
A filosofia de Hundertwasser estava profundamente enraizada na ideia de que a arte e a arquitetura devem coexistir em harmonia com as leis da natureza. Ele defendia a ideia de uma "arquitetura orgânica" que respeitasse as características naturais e individuais de cada local e de seus habitantes. Hundertwasser acreditava que o design arquitetônico deveria ser um processo orgânico e intuitivo, afirmando que "o verdadeiro criador é a natureza, e o que fazemos é apenas escolher partes da natureza e reorganizá-las." Para ele, cada edifício deveria ser uma obra de arte única, refletindo a singularidade de seu ambiente e de seus ocupantes.

Wieland Schmied, pintura de Hundertwasser
Uma característica marcante do trabalho de Hundertwasser era sua paixão por cores vivas e formas orgânicas, influenciadas pelo seu amor pela natureza e pela arte folclórica. Ele via a cor como uma ferramenta essencial para trazer alegria e vitalidade aos espaços, tanto públicos quanto privados. Suas obras são reconhecíveis pelas espirais e formas assimétricas, com uma paleta de cores vibrante e frequentemente em camadas. Hundertwasser descreveu sua abordagem dizendo: "Cada cor tem sua própria vida, sua própria história e seu próprio destino." Essa abordagem não convencional se reflete não apenas em seus edifícios, mas também em suas pinturas, estampas e design de selos postais.
Além da arquitetura e da pintura, Hundertwasser também se destacou como um ambientalista e filósofo. Ele via a arte e a arquitetura como meios para promover uma vida mais sustentável e ecológica. Defendia a integração da natureza nos espaços urbanos, como através de telhados verdes e "árvores-locatárias", onde árvores seriam plantadas em edifícios para proporcionar oxigênio e melhorar a qualidade de vida. Essa visão holística é capturada em sua citação: "Quando um homem sonha com um paraíso, ele está sonhando com seu verdadeiro lar." Hundertwasser não apenas imaginava um mundo mais colorido e orgânico, mas também trabalhava ativamente para torná-lo realidade, deixando um legado duradouro na interseção da arte, arquitetura e sustentabilidade.

Casa de Hundertwasser em Viena, Áustria.
O ar de Viena do final do século XIX ao início do século XX, parece ter sido carregado de moléculas de bom-senso, pois alí surgiu a Escola Austríaca de Economia, que tem como grande nuance, às demais escolas de economia, a observação da natureza particular e social dos homens para entender e formatar abordagens econômicas, que é exatamente o que Hundertwasser propunha em sua área de atuação, especialmente na arquitetura.
Fundada por Carl Menger e posteriormente desenvolvida por economistas como Friedrich Hayek e Ludwig von Mises, a Escola Austríaca de Economia é conhecida por sua ênfase na ação humana individual (o princípio da "praxeologia"), na importância dos processos de mercado e na crítica ao intervencionismo estatal e ao planejamento centralizado.
Imagine que a praxeologia é como uma receita para entender as ações humanas. Assim como uma receita de bolo nos diz os ingredientes e passos para fazer um bolo, a praxeologia nos ajuda a entender por que as pessoas fazem o que fazem. Ela parte da ideia de que todas as ações humanas são feitas com algum propósito, como quando você decide fazer chá porque está com sede.
Essa teoria não se preocupa tanto com o que as pessoas escolhem fazer, mas sim com o fato de que elas sempre agem para alcançar algo que consideram melhor para si. Por exemplo, quando você escolhe comprar pão na padaria em vez de fazer em casa, está fazendo isso porque acredita que é a melhor opção para você naquele momento.

“A praxeologia, como as ciências históricas da razão humana, lida com a ação propositada do homem. Se mencionar fins, o que tem em vista são os fins que o agente homem procura atingir. Falar de significado, referir-se ao significado que o agente homem atribui às suas ações.” (MISES, Ludwig von. Ação Humana.)
A praxeologia tenta entender essas escolhas sem julgar se são boas ou ruins, apenas observando que são feitas com um objetivo em mente. É como olhar para as pessoas e tentar entender o 'porquê' por trás das pequenas decisões que elas tomam todos os dias, desde a hora de acordar até a hora de dormir.
Hundertwasser não julgou a natureza, não esterilizou prédios, nem pasteurizar fachadas. Com as ferramentas que tinha, buscou incorporar, tal como se apresentava, a natureza à sua criação. A natureza humana, que é apenas uma peça do imenso “quebra cabeça” que é Natureza de tudo que existe, também foi respeitada por outros “artistas”, economistas, melhor dizendo, da Escola Austríaca.
Correlacionando essas abordagens, a importante contribuição de Murray Rothbard, pai do Anarcocapitalismo, que explica outra faceta da natureza, de sua dimensão no direito à propriedade privada, que é o direito que existe da derivação do direito à vida, pela necessidade de garantir o direito primário à vida, entenda: Imagine que você precisa de um lugar seguro para dormir e de comida para se alimentar. Essas necessidades básicas são importantes para a sua sobrevivência e bem-estar. Rothbard, ao falar sobre propriedade privada, considera justamente essas necessidades fundamentais do corpo.
Para Rothbard, a ideia de propriedade privada não é só sobre possuir coisas, mas também sobre garantir que você tenha o que é necessário para viver de forma segura e confortável. Ele acredita que, para garantir sua segurança e conseguir os recursos necessários para viver, como um lugar para dormir e comida para comer, você precisa ter o direito de possuir e controlar esses recursos.

“As leis devem ser meramente uma declaração dos direitos naturais e dos delitos naturais. Tudo o que for indiferente às leis da natureza deve ser ignorado pela legislação humana, de modo que a tirania legal surge onde quer que ocorra a desconsideração deste simples princípio.” (HURLBUT, Elisha P. Essays on Human Rights and Their Political Guarantees (1845), mencionado em Rothbard, A Ética da Liberdade, pág 77.)
Por exemplo, se você tem um pedaço de terra onde pode plantar alimentos e construir uma casa, você garante que terá comida e um lugar seguro para dormir. A propriedade privada, então, é uma forma de garantir que você possa atender às suas necessidades básicas sem depender de outras pessoas ou ser interferido por elas.
Nesse sentido, a propriedade privada é vista como um direito natural, derivado da necessidade do corpo humano de garantir sua sobrevivência e segurança. Rothbard defende que cada pessoa deve ter o controle sobre os recursos que adquire ou cria, para que possa cuidar de si mesma e de suas necessidades básicas. Assim, a propriedade privada é uma extensão do direito à vida, pois é essencial para garantir as condições necessárias para viver de maneira digna e segura.

John Locke foi um filósofo inglês conhecido como o "pai do liberalismo"
Ao mesmo tempo, Hundertwasser, deu uma ideia interessante que ele chamava de "5 peles". Ele comparava as camadas que nos cercam e nos protegem com as peles de uma cebola:
A Primeira Pele: Esta é a nossa própria pele, a do nosso corpo. Ele via nossa pele como a camada mais pessoal e íntima que temos. Ela nos protege e mostra quem somos.
A Segunda Pele: Esta é a roupa que usamos. Assim como a nossa pele, nossas roupas também dizem muito sobre nossa personalidade e nos dão proteção, como um casaco nos dias frios.
A Terceira Pele: Aqui ele falava da nossa casa. As casas, para Hundertwasser, são como uma grande roupa para a família. Ele achava que cada casa deveria ser única e refletir quem vive nela, oferecendo conforto e segurança.
A Quarta Pele: Esta é a camada da comunidade, ou seja, nosso bairro ou cidade. Hundertwasser acreditava que o lugar onde vivemos, com seus vizinhos, parques e ruas, é como uma pele que compartilhamos com outras pessoas.
A Quinta Pele: Por fim, a quinta pele é o nosso planeta, a Terra. Ele pensava que todos nós compartilhamos essa grande "pele", e por isso devemos cuidar bem dela, mantendo-a saudável e bonita para todos.

As Cinco Peles do Homem (DIE FÜNF HÄUTE DES MENSCHEN) - 1997 Friedensreich Hundertwasser
Então, basicamente, as "5 peles" de Hundertwasser são as diferentes camadas que nos cercam e nos definem, desde nossa própria pele até o planeta inteiro.
Não deve faltar respeito a quem observa com sinceridade a realidade, e desse processo contribui tão grandemente com o estudo da autonomia como os pensadores aqui mencionados.
Este artigo traça um paralelo fascinante entre as filosofias inovadoras de Friedensreich Hundertwasser e Murray Rothbard, revelando como suas ideias, aparentemente distintas, se entrelaçam na busca pela autonomia e liberdade individual. Hundertwasser, com sua visão das "cinco peles", nos leva por uma jornada que começa com a individualidade do ser humano e se expande para abraçar a comunidade e o planeta, enfatizando a importância de viver em harmonia com a natureza e o ambiente construído. Em contraste, Rothbard, com sua análise penetrante sobre a propriedade privada e a liberdade econômica, nos oferece um entendimento aprofundado de como as necessidades e direitos individuais formam a base para uma sociedade verdadeiramente autônoma e próspera. Juntos, esses pensadores nos guiam para um entendimento mais rico de como a arquitetura, a arte, e a economia podem ser integradas em um modelo de vida que respeita tanto o indivíduo quanto o coletivo, promovendo uma existência mais sustentável e livre de restrições artificiais. Através de suas lentes, percebemos que a verdadeira liberdade reside na capacidade de expressar nossa individualidade enquanto permanecemos em sincronia com o mundo ao nosso redor, uma harmonia que pode ser alcançada tanto através da criatividade artística quanto da compreensão econômica.
Para dar tchau 👋🏻
E, claro, mergulhar na tradição anual de fazer uma listinha de desejos para o novo ano. Mas esqueça os clichês – estamos falando de uma lista com um toque de autossuficiência (e um sorriso no rosto). 🤩

Não, não estou sugerindo que você aprenda a construir um navio – a menos que você esteja planejando fugir de ilha em ilha (e, se estiver, me convide!). {Desculpa, eu queria tanto incluir essa embarcação que Hundertwasser viveu e pintou durante 10 anos na Newsletter da semana, que me saí com essa piadinha 🙃} O Regentag foi uma fase significativa de sua vida. Era a sua casa, o seu país, a sua sede.
Então, que tal adicionar na sua lista para 2024 algumas habilidades de autossuficiência?
Você pode começar pequeno: que tal abraçar o mundo das fermentações e cuidar da sua própria Kombucha ou Kefir? Ou, para os mais artísticos, que tal se sujar um pouco de argila e se aventurar na cerâmica? Jardinagem também é uma opção – nada como falar com as plantas para manter a sanidade. E não esqueça daquela ideia, do início da nossa conversa, de reservar umas horinhas no domingo para pintar. Quem sabe o próximo Picasso está apenas a uma tela em branco de distância? 🤷🏻♂️
Autossuficiência é um campo vasto e, acredite ou não, pode ser muito prazeroso! Então, não procrastine para 2025 o que você pode começar a aprender agora.
Obrigado por estar aqui conosco. Para 2024, te desejo três coisas: vida, liberdade (para errar na fermentação, quebrar cerâmicas, falar com as plantas... 😅) e, claro, propriedade – sobre suas habilidades e seus sonhos. Um brinde a um Ano Novo cheio de aprendizado, alegria e desenvolvimento! 🌿🎉🎨
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